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Aprovações do BNDES para projetos de infraestrutura cresceram 143% no 1º semestre, diz diretora

As aprovações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiamentos em infraestrutura cresceram 143% no primeiro semestre de 2024, ante igual período do ano anterior. Segundo dados antecipados para o Estadão/Broadcast, o volume aprovado para projetos no segmento saltou de R$ 10,7 bilhões, um ano atrás, para R$ 26,1 bilhões no primeiro semestre deste ano. O banco de fomento divulga os dados do desempenho operacional e financeiro amanhã, dia 13, de manhã.

Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, a diretora de Infraestrutura e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa, afirma que o resultado do primeiro semestre carrega um efeito de base de comparação baixa, mas também se deve a surpresas na economia. “O Brasil está começando um ciclo de crescimento em infraestrutura.”

Considerando os leilões de concessões à frente, os projetos em estruturação e a necessidade de investimentos de cerca de R$ 800 bilhões apenas na universalização do saneamento, ela prevê que os financiamentos seguirão em alta. Pondera, no entanto, que há barreiras – entre elas, a carência de interessados em alguns setores, inclusive em saneamento, e os juros altos, agora estacionados em 10,5%. “Assim que a taxa de juros cair, o investimento em infraestrutura cresce mais rápido ainda”, afirma Luciana Costa. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Como ficaram as aprovações de financiamento ao setor de infraestrutura no primeiro semestre?

Aumentamos em 143% as aprovações no primeiro semestre. É muita coisa. Quando aprovamos um projeto de infraestrutura, não desembolsamos tudo na cabeça. Por exemplo, a operação da Dutra (financiamento à execução de obras nas rodovias Presidente Dutra e Rio-Santos) vai ser desembolsada em vários anos. Vamos desembolsando conforme o projeto vai consumindo os recursos. Uma vez que está aprovado, em algum momento isso será desembolsado.

O crescimento no ano deve manter esse ritmo?

No ano passado, o primeiro semestre foi muito parado. Tivemos crescimento de 143% no primeiro semestre (de 2024), mas, no segundo, não é assim (no mesmo ritmo). O banco tem uma sazonalidade, o segundo semestre tem aceleração. Podemos dizer que as aprovações do BNDES para infraestrutura cresceram 143%, o que indica para 2024 um crescimento ainda maior do que o de 2023, que já foi relevante. O Brasil está começando um ciclo de crescimento em infraestrutura.

Por que a sra. acredita nesse novo ciclo?

O arcabouço regulatório de rodovia amadureceu. Criamos um marco de saneamento, e depois do marco o BNDES, no ano passado, estruturou muita coisa. Em aeroportos, também conseguimos atrair investimento. E o Brasil tem esse banco de fomento com balanço robusto, resiliente e que diminui a incerteza em relação ao funding dos projetos. O investidor que vai à Colômbia, ao México, não tem um banco do tamanho do BNDES. As aprovações e os desembolsos em infraestrutura no BNDES continuam muito fortes. Desde o início dessa gestão, as nossas aprovações e os nossos desembolsos, e quando falo infraestrutura incluo energia, têm crescido consistentemente, e o pipeline também.

Como a sra. explica esse crescimento?

O que puxa a demanda de infraestrutura é precisamente a economia. Se a economia cresce, o aeroporto tem mais fluxo, há maior necessidade de logística e de escoamento de produção. A economia tem surpreendido, e o crescimento em infraestrutura também tem surpreendido. Quando olhamos para 2023, o investimento em infraestrutura cresceu 20% no Brasil. A nossa dúvida era: vai se manter? E o que temos visto é que, sim, o crescimento do investimento em infraestrutura vai se manter.

A sra. tem uma expectativa de crescimento dos investimentos em infraestrutura em 2024?

Não consigo precisar, mas vai crescer. Obviamente, conversamos com todos os players do setor. Então, quando converso com outros bancos, muitos deles estão com um pipeline de infraestrutura aquecido. Claro que tem áreas de infraestrutura que estão puxando esse crescimento. Por exemplo, concessão de rodovias. Mês passado, anunciamos a operação da Nova Dutra, que é um investimento de (quase) R$ 16 bilhões, onde o BNDES está financiando R$ 10,7 bilhões em 23 anos. É a maior operação de concessão rodoviária da história do País, é a maior debênture incentivada da história do Brasil e uma das maiores operações de mercado de capitais. Como 50% do PIB brasileiro circula no trecho Rio-São Paulo, era um investimento urgente. O ministro (dos Transportes, Renan Filho) espera fazer 35 leilões de rodovias, que destravam R$ 220 bilhões de investimentos. Além disso, o governo está lançando mão de várias estruturas para otimizar contratos problemáticos, com potencial de investimento de R$ 110 bilhões nesses contratos que precisam ser otimizados.

Com novos negócios sendo anunciados, demandas sendo destravadas, o BNDES pode dobrar as aprovações para infraestrutura no ano?

Acho que não dobramos. Ano passado, entre aprovação e desembolso, o crescimento foi entre 25% e 30%. Eu diria que crescemos até uns 30%, mas crescer 30% em infraestrutura no ano é muita coisa. Porque não são projetos em que a aprovação é rápida, são projetos superestruturados. Mas o BNDES é muito ágil e tem feito. Em razão do gargalo em alguns setores, é muito desejável atrair mais players, atrair mais sponsors para participar dos leilões. Temos feito um esforço para que isso aconteça.

Pode dar um exemplo onde há essa atenção?

Saneamento é um setor em que há poucos players no Brasil. Para universalizar (o acesso a serviços), é preciso investir cerca de R$ 800 bilhões em saneamento. Então, é muita coisa que tem de ser investida. Também temos um agro muito pujante, e a produção do agro cresce muito mais rapidamente do que a logística do agro.

Como o BNDES pode ajudar nesse processo de atração de player?

O BNDES é um dos maiores bancos nacionais do momento, é definitivamente o maior banco de infraestrutura da América Latina. O nosso capital é um capital que, diferentemente de um banco privado, do mercado de capitais, vai estar sempre lá. É muito desejável ter o mercado de capitais co-investindo com o BNDES, muito desejável ter os bancos privados co-investindo conosco. Mas, eventualmente, em momentos de crise, os mercados de capitais se fecham e os bancos se retraem, protegem os seus balanços. Nestes momentos, o BNDES está lá apoiando.

O BNDES tem se envolvido em diferentes projetos de parcerias público-privadas (PPPs). O que está em curso, em tratativas, no momento, para possíveis novos projetos?

Deve vir muita PPP de saneamento. Em alguns lugares, para universalizar, o modelo de concessão não será suficiente, ou não será o mais adequado. E daí devemos partir para algumas PPPs. Entre concessão e PPP de saneamento, temos cerca de R$ 95 bilhões em estruturação no BNDES.

A sanção das Letras de Crédito de Desenvolvimento (LCD) ajuda de alguma maneira ou ainda é pouco para o que é necessário em relação ao funding do BNDES?

São duas coisas: funding e espaço no balanço. Hoje, o BNDES está com o balanço muito desalavancado, com mais de 30% de Basileia. Então, espaço no balanço nós temos. O que o BNDES precisa fazer? Diversificar, que é a estratégia dessa gestão, as fontes de captação. FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) é uma das fontes de funding do nosso balanço. Letra de Crédito de Desenvolvimento será outra fonte […] Temos de fazer um esforço de diversificação de captação, que é o que estamos fazendo para conseguir ter dinheiro. Tem outra coisa que eu também poderia falar que é um desafio para crescer mais rápido: taxa de juros. Temos de trabalhar para reduzir a taxa de juros. Todas essas obras que estou falando (com apoio do BNDES) não têm subsídio. A taxa é a taxa de mercado. Precisamos trabalhar para derrubar a taxa de juros. Mais de 85% do funding do BNDES não conta mais com subsídio.

A sra. fala em derrubar a taxa de juros, é a Selic mesmo? Ou existem outras formas?

É que a Selic puxa tudo. Temos de, como sociedade, trabalhar para reduzir essa taxa de juros. Assim que a taxa de juros cair, o investimento em infraestrutura cresce mais rápido ainda.

Fonte: Folha de São Paulo